Ontem, lendo diversos blogs amigos, passei o dia inteiro assombrada com a estória do menino baleado pela polícia, aqui no Rio.
Eu senti várias dores (como Fernando Pessoa):
- a dor da impotência da mãe, que apertou tão fundo meu coração, que me fez ligar várias vezes por dia pra minha filha, e quase sufocá-la de beijos quando chegou em casa.
Mas a agonia continuou lá.
- a dor do pai, ausente na situação, que não pôde se despedir, que não deu esse último beijo, que não estava preparado. Não que ninguém esteja preparado pra perder um filho. Mas sobretudo com 3 anos.
E a agonia continuou lá.
- a dor de saber que pode acontecer, e acontece, com qualquer um: seja vc rico, pobre, bonzinho, malvado...
Acontece assim: como um raio. Cai aqui ou ali, indiscriminadamente. Sem aviso.
Que acontece logo alí, na Tijuca, e não só no Iraque, no Paquistão...
E assim, com esse pensamento, minha agonia continuava lá.
E por fim, a dor de saber que é vão, evitável, descaso.
Que é GENTE que faz isso. E que é GENTE que paga, e é A GENTE que permite.
A minha agonia sem fim, que me faz viver reclusa em casa, evitando sair do bairro, que me faz prisioneira, paranóica. A minha agonia de quem não quer nem assistir noticiário. Que tenta ficar anestesiada, pois pensar faz pirar.
É uma agonia desesperançada, que acha que não tem mais jeito. Que faz ficar de saco cheio, que pensa em mudar de cidade, de país, de mundo.
Agonia que vem da época que sofremos o arrastão, que me faz ter medo até hoje.
Logo eu, que não sou medrosa.
Agonia que me faz cada vez mais rir do conceito de "Deus" que as religiões tem. Como acreditar nesse cara???!!
Como acreditar que seja possível que ele permita isso??
Não, por favor, nem tentem me convencer do contrário. Acabarei por desprezá-los. Deixem-me sem acreditar sozinha e em paz.
Ice, vc fez bem de barrar aquele meu post revoltado contra fanáticos religiosos, lá no anonimato.
Amigos, eu queria muito ter escrito um texto inspirador. Pensei muito nele. Um texto que nos levasse a uma ação, que mostrasse minha revolta. Um texto que nos fizesse pegar em armas.
Eu sei que sou capaz.
Mas não hoje.
Hoje, em relação a esse assunto, vai ser dia de luto para mim. De respeito à família. De silêncio.
Amanhã planejamos o golpe.
6 comentários:
eu barrei algum post revoltado seu?
cara, eu devo estar muito velha coroca pq eu não lembro disso não...mas enfim, o post não é sobre isso.
tb farei o meu protesto..só que de outra maneira, conscientizando quem está ao meu redor e não alimentando a impunidade...o resto é o q eu já comentei lá na Olly.
O golpe, amiga. "O" golpe.
Tem que ser agora.
um beijo.
eu tbem fiquei revoltada, dolorida por dentro... so que chega uma hora, que foge do controle... eu ja estou desistindo, perdendo a esperança de que aqui continuara/sera um lugar habitavel... por que nesta selva de violencia, esta muito dificil....
beijos
a agonia anestesiou-me de um jeito que não consigo me expressar sobre. Assim como com João Hélio a algum tempo atrás. me fez ter pesadelos esta noite pensar nisso. me fez sublimar ainda mais o amor pelo meu filho. me fez chorar deveras assistir o desespero daquele pai.ainda não cheguei no estado catártico, que virá com a grande revolta que hei de sentir assim que passar a bobeira e o estarrecimento. não consigo ser forte. não hoje.
O golpe amiga. Curta seu luto, mas temos que fazer alguma coisa!
beijos,
Olly (cada dia mais anarquista)
Cheguei a chorar com a noticia, pq depois de sermos mãe, a gente sente as dores mais intensamente. Faço minhas as tuas palavras. E, é algo revoltante de se dizer, mas assim que minha primeira filha nasceu, convenci meu marido a mudarmos do Rio, não que outros lugares não sejam igualmente violentos, mas aí, alem de termos de nos preocupar com bandidos, temos de nos preocupar com a policia tambem. Está ficando deplorável.
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